Nesse post insiro a mesma notícia, porém de fontes diferentes. Inicialmente reproduzo um artigo publicado no blog RS URGENTE, de Marco Aurélio Weissheimer, também editor na Agência Carta Maior, sobre a execução de um mandato de busca e apreensão a alguns objetos supostamente roubados por militantes do MST. Em seguida a mesma notícia, publicada no Correio do Povo e na Zero Hora, respectivamente. Tirem suas próprias conclusões.
Em tempo: somente a Zero Hora cita a presença de policiais federais à ação, o que é duvidoso, pela natureza das atribuições da PF (adicionado às 15:51).
Do RS URGENTE, em 18 de janeiro de 2008:
O fotógrafo Leonardo Melgarejo faz o seguinte relato dos acontecimentos, ontem, no assentamento Nova Sarandi, quando a Secretaria de Segurança Pública do RS mobilizou um aparato de centenas de policiais para executar uma ação de busca e apreensão.
- Encontro Estadual do MST se realiza em assentamento muito bem sucedido, área federal desapropriada há cerca de 20 anos e cedida para as famílias ali estabelecidas, que ofereceram seu espaço, suas casas, para os cerca de 1500 participantes do evento.
- Um juiz estadual determina mandado de busca e apreensão para itens supostamente roubados por algumas pessoas que supostamente estariam participando do Encontro. Os itens incluem um anel de ouro, uma máquina fotográfica, R$ 200, um rádio de carro, entre outros. Merece destaque o fato de que estes itens são apresentados desta forma, que não permite sua identificação. Qualquer anel dourado, qualquer máquina, qualquer conjunto de notas e moedas somando R$ 200 se enquadram no rol de provas a serem buscadas.
- É montado um aparato de busca envolvendo o que se vê nas fotos. O assentamento é cercado. Os assentados são informados, na parte da tarde, que na manhã seguinte será executada a ação.
- Os assentados, que convidaram os participantes a se reunirem ali, não aceitam abrir suas casas para uma revista que não daria em nada, pelo absurdo do ato.
- Ao amanhecer inicia-se o processo, com divergências entre o comando da Brigada e o comando da Polícia a respeito da necessidade de levar a ação a termo, nos moldes em que ela está se delineando. Com apoio do comando da Polícia, são estabelecidas negociações envolvendo vários interlocutores, que incluem ministros de estado, juízes, ouvidores agrários e diversas articulações para obter manifestação da governadora, que supostamente já haveria dado seu consentimento ao ato. A imprensa internacional anuncia a possível tragédia. A ONU se manifesta pedindo suspensão da ação.
- Os agricultores se preparam para oferecer resistência, com paus e pedras. A organização dos agricultores consegue conter o nervosismo de todos, a tensão é amenizada com canções. No momento em que o confronto parece inevitável, a negociação evolui para bom termo. Os ônibus são revistados pela polícia, a Brigada Militar não entra na área do assentamento, a ação militar é suspensa, os agentes se retiram, agricultores retornam às atividades do Encontro.
Fotos: Leonardo Melgarejo
Escrito por Marco Weissheimer às 15h26
Do Correio do Povo, de 18 de janeiro de 2008 (capa):
Negociação evita confrontoDuraram cerca de oito horas as negociações envolvendo a Brigada Militar (BM), a Polícia Civil e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) no cumprimento de um mandado judicial de busca e apreensão expedido pelo juiz Orlando Faccini Neto, de Carazinho. Ele mandou recolher os 17 ônibus usados para levar centenas de sem-terra a uma invasão relâmpago, de três horas, à fazenda Coqueiros, em Coqueiros do Sul, na segunda-feira passada, e localizar objetos, armas e munição que sumiram da propriedade rural depois da ocupação.
Durante a madrugada, a BM vistoriou dois acampamentos no município de Coqueiros do Sul e prendeu um homem por porte ilegal de arma. Ao amanhecer, cercou a cooperativa do Assentamento Novo Sarandi, em Pontão, mas encontrou resistência dos cerca de 1,1 mil militantes do MST que estavam no local para um encontro estadual. O impasse se estendeu até as 16h, quando, por acordo, houve uma revista de instalações, ônibus e 50 pessoas, na qual nada foi encontrado.'Fizemos cumprir a ordem do juiz sem recuar jamais', afirmou o coronel Paulo Mendes, subcomandante da Brigada Militar, ao final da operação. Mendes conduziu as negociações, junto com o ouvidor-geral da Segurança Pública, Adão Paiani, e o delegado regional de Carazinho, Luiz Fernando Pinto.
Operação para cumprimento de mandado judicial de busca e apreensão em acampamentos mobilizou 600 policiais militares
Da Zero Hora, de 18 de janeiro de 2008:
Três dias depois de invasão-relâmpago de integrantes do movimento em Coqueiros do Sul, polícia cumpre mandados em acampamentosO governo do Estado respondeu forte à provocação feita por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que na segunda-feira promoveram uma invasão-relâmpago à Fazenda Coqueiros, em Coqueiros do Sul, no norte gaúcho.
Na manhã de ontem, cerca de 700 policiais militares, civis e federais desembarcaram em frente a dois acampamentos do movimento, no município, e à sede do Assentamento Novo Sarandi, em Sarandi. O motivo era o cumprimento de um mandado de busca e apreensão de objetos e dinheiro supostamente roubados durante a invasão dos sem-terra à Coqueiros.
Embora reunidos em silêncio, com homens do Batalhão de Operações Especiais de Porto Alegre, Santa Maria e Passo Fundo, os policiais foram recebidos na porteira da Novo Sarandi - antiga Fazenda Annoni e berço do MST - pelos cerca de 400 sem-terra que estão no local, por volta das 7h. Ali, acontece desde segunda-feira um encontro estadual do movimento.
Uma longa negociação se estendeu até as 16h, quando, finalmente, os sem-terra concordaram com a vistoria na propriedade. Antes disso, houve momentos de tensão. Argumentando que os objetos procurados não estavam na propriedade, os sem-terra bloquearam a passagem dos agentes.
Policiais não encontraram objetos desaparecidosA Brigada Militar e a Polícia Civil, comandadas respectivamente pelo subcomandante-geral da BM, coronel Paulo Roberto Mendes, e pelo delegado regional de Carazinho, Luís Fernando de Azevedo, pretendiam entrar a qualquer preço, afirmando ter uma ordem judicial a cumprir. Como os sem-terra ameaçavam reagir com força, os ânimos foram acalmados pela intervenção do ouvidor-geral da Segurança Pública, Adão Paiani, que acompanhava a ação e conversou diversas vezes com a governadora Yeda Crusius, que trabalhou intensamente para evitar o confronto.
No meio da tarde, 70 agentes da Polícia Civil, 10 delegados e 40 soldados da Brigada Militar entraram na área com aval do movimento.
- Nós resistimos à mão opressora do latifúndio, que usa o braço armado do governo para nos reprimir. Mas não queremos derramamento de sangue. Mais uma vez, a governadora mostra seu novo jeito de governar - reclamou uma líder do MST que preferiu não se identificar.
A vistoria na sede da granja usada para a reunião foi feita em cerca de 30 minutos. Nenhum dos objetos procurados foi encontrado, mas foram apreendidos uma foice e alguns pedaços de madeira que poderiam ser usados como arma. O encontro estadual do MST termina hoje à tarde.
Nos dois acampamentos do movimento em Coqueiros do Sul, para onde se deslocaram cerca de 200 policiais, não houve dificuldade para o cumprimento do mandado judicial. A revista aconteceu ainda pela manhã. Foram apreendidos uma espingarda, um esmerilhador, um binóculo e uma motosserra de origem ainda não identificada.
LEANDRO BELLES | Passo Fundo/Casa Zero Hora
5 comentários:
Excelente comparação entre matérias, Leandro. É explícito que há uma parcialidade inegável e desrespeitosa de grandes grupos de comunicação.
Na verdade, vejo a falta de imparcialidade de todos, o primeiro( de cima para baixo) é totalmente panfletagem dos afetados, o segundo mais suscinto como era de se esperar do correio e a Zero por incrivel q parece foi a mais razoavel uma vez q usou um termo q nenhum outro artigo usou ao se referir aos alvos da busca: objetos "supostamentes" roubados. Ela não afirma nem condena, certamente puxa um pouco o saco da governadora, mas assim como o primeiro se faz de vitima e o segundo não se aprofunda.
O q vi foi 3 estilos de reportagem distintos e com ideologias bem diferentes.
Alexandre, não leste os textos com igual atenção. Certamente todos são parciais, isso já sabemos. Mas o primeiro texto fala que "Um juiz estadual determina mandado de busca e apreensão para itens supostamente roubados por algumas pessoas que supostamente estariam participando do Encontro". E vai além, arrolando esses itens. E quanto a tua afirmação de que o "primeiro se faz de vítima", eu já estive pessoalmente em negociações com a brigada, e sei que não é moleza não. Uma afirmação como essa não espera-se de um jornalista, pois eles podem realmente estar sendo vítimas, e não se fazendo passar por. Ou estaria a ONU manifestando-se à toa?
Eu tambem sei q a brigada não é mole ao se conversar com ela, já tive rolo com eles e não é algo facil de conseguir conversar e q eles te entenda, ou queiram te entender...
A ONU sempre se manifesta mas nem sempre tem siquer provas ou mesmo se interessa em mais do q se manisfestar sobre qualquer caso de violencia militar ou policial no globo. Realmente não percebi o termo suposto no 1° artigo.
No entanto não estou dando a opinião de jornalista, mas repassando o q senti ao ler os artigos, até porque jornalistas não omitem, ou não deveriam omitir opiniões apenas de leituras de artigos publicados, sem ter acesso as fontes, ou mesmo ter estado no local. Talvez em um caso mais teórico ou seja tipo o caso recente do equador onde todos os depoimentos dados por jornalistas especialistas em politica foram sobre conjecturas futuras mas nada sobre os fatos já arrolados tentando imaginar o q ocorreu para o Uribe fazer o q fez.
O problema de pegar artigos de fontes diretas dos lados afetados é sempre a desconfiança e a falta de credito de ambos os lados. Mas o q dizer tambem não se pode obter uma midia imparcial nem do lado de fora da disputa.
O que é necessário, é a compreensão do texto pelo leitor. Mais que isto, é a fidelidade aos fatos pelo autor, sem que, com isto, seja totalmente imparcial. Jornalistas e redatores são humanos e, portanto, parciais. Sempre vão ter sua própria opinião de qualquer fato e isto, queiram ou não, transparecerá de alguma maneira no texto.
Com o tempo, o público sabe qual a tendência do veículo de informação. O Correio, por exemplo, praticamente não comenta notícias, apenas relata. É um saco, convenhamos! Melhor ter um bom texto com alguma parcialidade que texto sem nenhum tipo de análise. Para que existiriam jornalistas, caso isto não fosse necessário? Uma pessoa bem informada, vai saber da mesma notícia em várias fontes e fazer sua própria correlação de idéias, tirar suas próprias conclusões.
O problema real está na falta de educação [formal] das pessoas, que dificulta a interpretação de notícias, sejam elas quais forem.
E, Leandro, não se negocia com a Brigada Miliar... quando eles aparecem, estão com algum mandato judicial e devem cumpri-lo. Principalmente com a tropa de choque. Esta, já vi de perto e não é de conversa!
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